Dívidas cobradas a clientes?

Têm surgido umas notícias algo surreais onde se alega que alguns clientes de restaurantes são intimados pela Autoridade Tributária a pagar as dívidas dos restaurantes que frequentam.

Isto é de tal forma surreal que merece alguma análise aos factos

  1. não há um único “cliente” que se tenha identificado e dito: a chamada que recebi no dia tantos às tantas horas foi a tal em que a AT me contactou. Podem verificar com os meus registos telefónicos
  2. este sistema de faturas tem vários problemas, mas contribuiu imenso para um setor de mercado conhecido por fuga ao fisco passar muito mais faturas (os problemas vão desde a privacidade dos cidadãos perante a AT ao absolutamente bronco e inseguro sistema de certificação dos sistemas de faturação eletrónica que inclusive proíbe o Software Livre de participar neste mercado, as aplicações supostamente livres têm pelo menos de ter um determinado componente proprietário)
  3. os únicos que aparecem a contar a história são agentes com participação no sector com o poder de tornar anónimos os relatos, seguem exemplos com base neste artigo do Dinheiro Vivo:
    1. «O caso contado ao JN por um empresário de restauração» qual?
    2. «este empresário recebeu um telefonema de um cliente» quem?
    3. «o bastonário da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, Domingues de Azevedo, que disse ter conhecimento de vários casos» não os denunciou porquê?

Ora vejamos, o que se passa aqui?

Será que esta frase atribuída ao bastonário dos TOC não diz tudo?

estas situações são um abuso e acontecem “porque há uma utilização indevida da informação do e-factura”.

Pois é, até podia ser, não fosse o fato de que quem se queixa é quem tem a ganhar com o fim deste sistema em detrimento de nós, cidadãos comuns, assalariados e com impossibilidade de fuga ao fisco no que diz respeito aos nossos rendimentos.

Se fossem cidadãos a queixarem-se da perda de privacidade, eu concordaria. Mas como é quem ganha financeiramente com o fim do sistema que está a reclamar, parece-me que se passa algo mais próximo dos artigos vendidos por Ordralfabetix, peixe menos que fresco.

ordralfabetix
As queixas contra o e-fatura dos restaurantes e do bastonário dos TOC

O papel dos órgãos noticiosos que não olham para estas queixas com olho crítico é mais uma fotografia lamentável do estado do jornalismo.