Têm surgido umas notícias algo surreais onde se alega que alguns clientes de restaurantes são intimados pela Autoridade Tributária a pagar as dívidas dos restaurantes que frequentam.
Isto é de tal forma surreal que merece alguma análise aos factos
- não há um único “cliente” que se tenha identificado e dito: a chamada que recebi no dia tantos às tantas horas foi a tal em que a AT me contactou. Podem verificar com os meus registos telefónicos
- este sistema de faturas tem vários problemas, mas contribuiu imenso para um setor de mercado conhecido por fuga ao fisco passar muito mais faturas (os problemas vão desde a privacidade dos cidadãos perante a AT ao absolutamente bronco e inseguro sistema de certificação dos sistemas de faturação eletrónica que inclusive proíbe o Software Livre de participar neste mercado, as aplicações supostamente livres têm pelo menos de ter um determinado componente proprietário)
- os únicos que aparecem a contar a história são agentes com participação no sector com o poder de tornar anónimos os relatos, seguem exemplos com base neste artigo do Dinheiro Vivo:
- «O caso contado ao JN por um empresário de restauração» qual?
- «este empresário recebeu um telefonema de um cliente» quem?
- «o bastonário da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, Domingues de Azevedo, que disse ter conhecimento de vários casos» não os denunciou porquê?
Ora vejamos, o que se passa aqui?
Será que esta frase atribuída ao bastonário dos TOC não diz tudo?
estas situações são um abuso e acontecem “porque há uma utilização indevida da informação do e-factura”.
Pois é, até podia ser, não fosse o fato de que quem se queixa é quem tem a ganhar com o fim deste sistema em detrimento de nós, cidadãos comuns, assalariados e com impossibilidade de fuga ao fisco no que diz respeito aos nossos rendimentos.
Se fossem cidadãos a queixarem-se da perda de privacidade, eu concordaria. Mas como é quem ganha financeiramente com o fim do sistema que está a reclamar, parece-me que se passa algo mais próximo dos artigos vendidos por Ordralfabetix, peixe menos que fresco.
O papel dos órgãos noticiosos que não olham para estas queixas com olho crítico é mais uma fotografia lamentável do estado do jornalismo.